Leia 8 Histórias em Quadrinhos do Primeiro Livro.


A Colônia Itajahy (atual cidade de Brusque) foi criada no ano de 1860, quando o Brasil ainda era uma monarquia governada pelo imperador D. Pedro II, com a capital no Rio de Janeiro. O Brasil era um país escravocrata, ou seja, utilizava a mão de obra escrava africana. Grande parte da população do país era formada por escravos e negros libertos. A economia era agroexportadora, ou seja, produziam-se produtos agrícolas para a exportação.  Na Província de Santa Catarina (durante o Império os Estados chamavam-se Províncias), havia poucos habitantes e estavam concentrados na parte litorânea, sendo as principais cidades daquela época São Francisco do Sul, Itajaí, Laguna e a capital Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis), todas localizadas no litoral e servidas de portos. Em 1860, quando a Colônia Itajahy foi criada, no Brasil discutia-se sobre a substituição do trabalho escravo pelo trabalhador branco livre e sobre a necessidade de povoamento das terras do sul do país, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, até então pouco povoadas.


O governo imperial decidiu por povoar o sul do país através de colônias de povoamento. Assim, colônias seriam criadas e terras distribuídas aos imigrantes que escolhessem viver no Brasil e trabalhar na agricultura. Outro objetivo era criar e desenvolver o modelo agrícola da pequena propriedade policultora, mantida pelo trabalho familiar sem o uso de escravos. Com as colônias, o governo povoaria estas terras e desenvolveria a economia agrícola. A Colônia Itajahy foi fruto desse projeto Imperial. O Barão vivia em Petrópolis desde 1825. Era um militar membro do Corpo de Engenheiros. Em Petrópolis foi professor e vice-diretor do Colégio Calógeras. Em 1855 vamos encontrá-lo associado à Sociedade de Agricultura e Indústria, em 1860 é escolhido para assumir a direção da Colônia que estava sendo criada. Quando chegou às terras onde seria instalada a colônia nada havia sido feito, era tudo mato. Somente a demarcação das terras, mais nada.

Pesquisa: Robson Gallassini (in memoriam)

 

A maior parte dos imigrantes que vieram ao Brasil eram agricultores em sua terra natal. Dedicavam-se ao trabalho na lavoura, plantando e colhendo conforme as estações do ano. Muitos não possuíam terras e trabalhavam como arrendatário (aquele que aluga uma área de terra mediante pagamento) ou nas terras de um senhor. A maior parte da produção era voltada para o consumo da família e o excedente era comercializado. Nos pastos criavam alguns bois e vacas, às vezes duas ovelhas de onde tiravam a lã para produção das roupas. A vida não era fácil, principalmente nos meses de inverno, onde a quantidade de alimento diminuía e a madeira disponível nem sempre era suficiente para aquecer o interior das casas, fato que obrigava muitos camponeses a roubarem a lenha para se abastecer. Essas difíceis condições de vida forçaram muitos alemães a emigrarem para a América, e muitos deles vieram ao Brasil.



Neste quadro vamos apresentar a descrição feita por um camponês da região do Schleswig-Holstein (Alemanha), em meados de 1850, sobre o dia a dia em um vilarejo:

“Por dois anos eu estive em Busloh. Dois anos que na minha lembrança parecem tão interessantes porque neles simplesmente não ocorreu nada, mas realmente nada que um ser comum pudesse conceber como um acontecimento fora do normal. A vida transcorria, eu apenas vivia e trabalhava. Nós trabalhávamos, comíamos, dormíamos e trabalhávamos de novo, bem assim como os cavalos de carga: “Hü”, “Hott” e “Prrr”. Longe da aldeia e da cidade, aqui um dia passava após o outro no ritmo eterno e uniforme de um moinho. De madrugada, às 4 horas começava o trabalho e no inverno terminava às 18 horas, no verão, conforme as ordens, às 19, 20 ou 21 horas. Assim se passavam as coisas, entrava dia, saía dia, sem nenhuma variação que não aquela trazida pelo trabalho”.

Texto adaptado in: RENAUX; Maria Luiza. O outro lado da História: o Papel da Mulher no Vale do Itajaí 1850-1950. Editora da FURB, 1995. Pag. 22-23.

Pesquisa: Robson Gallassini (in memoriam)



A população alemã, assim como de outros países da Europa, enfrentou condições difíceis para viver ao longo do século 19. Falta de trabalho, baixos salários, invernos rigorosos, falta de terras para trabalhar e altos impostos eram situações que faziam da vida do camponês um desafio diário. A saída para escapar da miséria era emigrar (deixar um país para ir se estabelecer em outro). Grande parte dos imigrantes alemães foram para os EUA, enquanto uma pequena parte veio para o Brasil, que nesse mesmo período estava atraindo imigrantes europeus para povoar as terras do sul do país. Os imigrantes vinham em busca de terra própria e liberdade, enquanto fugir da miséria era uma necessidade. A viagem de navio ao Brasil quase sempre era feita em condições ruins. Antes de partir, o camponês tinha que vender sua propriedade, quando as tinha, e seus pertences a fim de ter recursos para alcançar o porto de embarque, geralmente o porto de Hamburgo.


A travessia do oceano demorava em média três meses, porém, algumas embarcações levaram muito mais tempo. A bordo de navios à vela, enfrentavam a falta de acomodação e a péssima alimentação. No navio a disciplina era rígida. Levantava-se às seis, fazia-se a higiene pessoal e procediam a arrumação dos “dormitórios”. Depois escolhia-se aqueles que iriam buscar o café cada um deles responsável por 8 a 10 pessoas. Os alimentos eram distribuídos 3 vezes ao dia, em horas certas. Às 8 horas, às 13 e às 18. Quando o tempo estava bom permanecia-se no deck, quando não, ficava-se no interior. As tempestades eram uma ameaça, e as doenças fizeram muitas vítimas. Os mortos eram atirados ao mar, para desespero dos familiares. Depois de longa viagem o navio fazia parada no Rio de Janeiro, para depois seguir até Santa Catarina, ancorando na capital da província. Daí até a colônia onde iam ficar era mais uma longa viagem.

Pesquisa: Robson Gallassini (in memoriam)



Imagine alguém que em sua vida foi advogado, deputado estadual no RS e duas vezes Deputado Federal (eleito em um dos mandatos pela província do AM), governador de dois estados diferentes: SC e PA, conselheiro do Imperador Dom Pedro II, Coronel do Exército Brasileiro (e com medalha de honra por seus feitos), e além disso Ministro da Guerra e da Marinha. Todos esses cargos e atividades foram exercidos por Francisco Carlos de Araújo Brusque (24/05/1822 – 23/09/1886), personagem homenageado com o nome do município brusquense.

A história da família Brusque se confunde com a história de Portugal e do Império Brasileiro. O avô de Francisco, Nicolau Bruschi, um nobre da cidade de Florença, mudou-se para Portugal e se tornou mordomo do palácio real (em outras palavras, o administrador do palácio do Rei de Portugal). Em 1808, quando as tropas de Napoleão estavam prestes a invadir o país, a corte foge para o Brasil, porém Nicolau fica em Portugal para cuidar dos bens do Rei Dom João VI. Além de se separar da corte, Nicolau despediu-se de seu filho Francisco Vicente, que embarca para o Brasil e vai fixar-se no Rio Grande do Sul. É no exercício de suas atividades naquela província, por volta de 1846, que Francisco Vicente decide “abrasileirar” seu sobrenome, mudando o Bruschi para Brusque.


Seu filho, Francisco Carlos de Araújo Brusque nasceu em Porto Alegre, formou-se em direito e ingressou na vida pública.

 Quando presidente da Capitania de Santa Catarina (cargo equivalente ao de governador do estado), decide criar três núcleos coloniais no ano de 1860, entre eles está a cidade onde hoje vivemos. Francisco acompanhou o Barão de Schneeburg e os primeiros 55 colonos até o porto às margens do Itajaí-Açu. Durante a viagem, o próprio Barão e a comitiva que o acompanhava sugerem que a nova colônia fosse nomeada “Brusque”. Porém, Francisco não aceita tal homenagem e registra a nova colônia com o nome de Itajahy. Apesar da recusa, informalmente todos se referiam àquele lugar como Brusque, inclusive o próprio Barão de Schneeburg que em seus documentos escrevia “Colônia Itajaí-Brusque”. O nome Brusque passa a ser oficializado apenas em 1890 quando o lugar ganha a categoria de Município, quatro anos após a morte de seu homenageado.

Pesquisa: Carlos Eduardo Michel.


A região do Vale do rio Itajaí-Mirim, antes da chegada dos primeiros habitantes brancos, era povoada pelos Xokleng, povo nômade que vivia da caça e da coleta entre a região do planalto e litoral de Santa Catarina. A fim de conseguirem alimentos, tinham que se deslocar com frequência para encontrar comida, e era durante os meses de primavera e verão que se dirigiam para o litoral e Vale do Itajaí à procura de frutos e animais nas áreas de Mata Atlântica. Realizavam a coleta de frutos como o araçá-amarelo, o araticum, o bacupari, a grumixama, além de ingás, palmitos, guabirobas, pitangas entre outros. No planalto catarinense, nos meses de inverno, coletavam o pinhão, seu principal alimento.

 

A caça era responsável por boa parte da alimentação dos Xokleng. Tinham a sua disposição diferentes tipos de animais como, por exemplo, antas, porcos do mato, cutias, coatis, mãos-peladas, iraras, lontras, furões, como também integrantes da família dos felinos como gato-do-mato, puma, jaguatirica e onça. Se já não bastasse, poderiam empreender a caça de bugios, tatus, tamanduás, gambás, capivaras, jacarés, lagartos, etc., sem falar da pesca, através da qual capturavam traíras, cascudos, carás, jundiás etc. Entre as aves que poderiam ser abatidas estavam: tucanos, inhambus, macucos, marrecas, rolas, aracuãs, jacupemas, jacutingas, urus, frangos-d’água além de muitas outras. A destreza no uso do arco e flecha era necessária para garantir os alimentos ao grupo.

Pesquisa: Robson Gallassini (in memoriam) 





Um dos primeiros moradores da região onde seria fundada a cidade de Brusque foi Vicente Só. Segundo os relatos, vivia onde hoje existe uma praça com seu nome, nas proximidades da Sociedade Bandeirante. Morava sozinho, sendo que a área habitada mais próxima era Itajaí, alguns dias de viagem rio abaixo. Sobre esse antigo morador, pouco se sabe. As poucas referências a ele foram encontradas no primeiro mapa da colônia e em um relato de Antônio da Costa Flore de 80 anos, morador de Itajaí que foi publicado no jornal Novidades de 1907. Foi nestas terras que se estabeleceu o colono alemão Pedro José Werner. Na margem direita do rio (sentido rio abaixo), Pedro Werner construiu sua casa e seus engenhos, abriu a mata e cultivou suas roças, tudo isso antes da criação da Colônia Itajahy em 1860.


Peter Joseph Werner (Pedro José), nascido na Alemanha em janeiro de 1822, tinha seis anos de idade quando chegou à recém-criada colônia de São Pedro de Alcântara, criada em 1829. Como suas terras eram ruins para o cultivo, muitos colonos a abandonaram e vieram morar na região do rio Itajaí-Mirim. Em dezembro de 1854, Pedro, casou-se com Catharina Palm, com quem teve três filhos, Maria, Nicolau e Pedro Werner Filho. Aventureiro e empreendedor decidiu estabelecer-se nas margens do rio Itajaí-Mirim, onde construiu engenho de farinha, serraria e olaria, provavelmente auxiliado por ajudantes contratados. Na região o casal teve três filhos, Maria, Nicolau e Pedro Werner Filho. Ao chegarem as dez primeiras famílias colonizadoras de Brusque, em agosto de 1860, escoltadas pelo Barão von Schneeburg foram recepcionados por Pedro Werner e alojados em seu engenho.

Texto Adaptado: Mosimann, João Carlos; As famílias de Brusque, Guabiruba e Botuverá: nos meandros do Itajaí-Mirim. Florianópolis. Edição do autor, 2010. p. 11.

Pesquisa: Robson Gallassini (in memoriam)



“Nos vastíssimos terrenos que hoje abrangem os municípios de Brusque, Nova Trento, Blumenau, Belchior para cima, tudo era mata virgem: não havia nenhum habitante, a não ser os selvagens”, lembra Antônio da Costa Flores ao jornal “Novidades” (Itajaí, 23 de junho de 1907): “Quem primeiro morou no ponto em que está a sede de Brusque foi Vicente Ferreira de Mello, por apelido Vicente Só: andando a caçar, achou o lugar muito bonito e fez um rancho no alto do morro em que hoje se vê a Igreja Católica, mas não podendo continuar a viver lá, veio com a família aqui para a Coloninha, onde terminou os seus dias”.

Para o historiador Ayres Gevaerd, Vicente Só “provavelmente foi outro minerador. Sua presença, segundo as crônicas, foi o gosto pela natureza e a beleza do local em que se acha a cidade de Brusque. Entretanto, como ninguém pode viver em eterno sonho, contemplando as belezas naturais, ‘Vicente Só’ teria sido mais um garimpeiro cuja frustração só viria no fim de seus dias.” Gevaerd lembra que desde 1651 contavam-se histórias da existência de ouro nas cabeceiras do rio Itajaí. Entre os exploradores estava Salvador Pires, filho de Francisco Dias Velho Monteiro, fundador da Vila de Desterro (atual Florianópolis).


Entre 1855 e 1860, quatro engenhos estavam em pleno funcionamento na então localidade de Vicente Só, sendo seus proprietários Peter Josef Werner, Franz Sallenthien, Rheinhold Gaertner (Barra de Águas Claras) e Johann Paul Kellner (Pedras Grandes). Para o pesquisador João Carlos Mosimann, Werner e Kellner “podem ser considerados os verdadeiros pioneiros de Brusque”. Werner era pai de Maria, a primeira criança nascida no Itajaí-Mirim, em 1856. Kellner, Gaertner e Sallenthien eram oriundos da colônia Blumenau e Werner da colônia de São Pedro de Alcântara.

A fundação da colônia Itajahy-Brusque ocorreu em 4 de agosto de 1860, com a chegada do barão austríaco Maximilian von Schneeburg e um grupo de 55 imigrantes alemães. Esses imigrantes tinham descido em Desterro, capital da província, dias antes de empreenderem a sua viagem para o porto de Itajaí, a bordo da canhoneira “Belmonte”, tendo a acompanhá-los não somente o diretor da colônia (Barão de Schneeburg) como o próprio presidente da província, Dr. Araújo Brusque. Ao chegar a Itajaí, seguiram em canoas, subindo o Rio Itajaí-Mirim para o local destinado ao estabelecimento da colônia.

Extraído do livro “Brusque Cidade Schneeburg” de Saulo Adami.

 

O trabalho de um historiador pode ser comparado ao trabalho de um investigador: nas duas situações, para desvendar os mistérios de cada caso, é necessário a busca por diversas provas. Para o historiador essas provas são as fontes históricas e servem para comprovar as hipóteses que o pesquisador cria sobre como foi o passado. A história do fundador de nossa cidade, Maximilian von Schneeburg é repleta de mistérios, justamente pela falta de fontes históricas que nos permitam afirmar suas características. Nem mesmo é conhecida qualquer fotografia ou pintura de sua figura.  Sabemos que a família Schneeburg era nobre e que Maximilian nasceu em 1798, na região do reino da Boêmia, que na época estava sob o domínio da Áustria e era influenciada pela Alemanha. Seu pai, militar, faleceu em combate no ano seguinte. Apesar de a perda do pai, aos 16 anos ingressa na escola de engenharia militar e logo é nomeado cadete. Sua carreira militar não dura muito, pois se vê obrigado a pedir licença por conta de um problema de saúde. Depois de deixar o exército, sua aposta é o Brasil. Em 1825 chega ao país e integra a Escola Militar Imperial, sendo professor do Colégio Militar Calógeras, de Petrópolis (RJ).

Em 1856 passa a trabalhar com a Sociedade de Agricultura de Petrópolis, de onde provavelmente partiu o convite para instalar uma leva de colonos alemães no Vale do Rio Itajaí. A essa altura, Schneeburg já tinha mais de 60 anos, e ainda assim, aceita a missão. Pelo que podemos concluir dos relatos, documentos e cartas deixados por ele, o Barão era um homem de fibra, amava tanto sua pátria natal quanto o seu país “adotivo”; era detalhista e procurava a justiça em todos os seus atos. Em julho de 1860 encontra cerca de 80 pessoas na Hospedaria dos Imigrantes, Rio de Janeiro. Em 4 de agosto chega, com 55 daqueles às terras da margem esquerda do Rio Itajaí-Mirim, plantando a semente do que hoje é Brusque. Schneeburg deu início à colonização de Brusque e administrou a colônia até 1867, quando se afasta por problemas de saúde e retorna à Europa, falecendo em 1869.

Pesquisa: Carlos Eduardo Michel. 


 

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